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17.5.10

Projetar


Minha mesa está uma bagunça, minha vida está uma bagunça, tem tanta coisa espalhada aqui fora e aqui dentro também. Trabalhos, prazos, provas, tanta coisa pra fazer e não sai nada. Na verdade caminha, mas parece que o tempo corre. Vai dar tempo, vai dar tempo, mas tá ficando em cima da hora.
Pega material, assiste um vídeo no youtube, dá uma olhada nas referências, conversa no msn, rabisca alguma coisa, vai dar uma olhada na tv, confere as datas, o programa, vai dar uma volta, faz um chá, anota algumas coisas...
Aquela sensação de ter tanta coisa e de não ter nada, o projeto não sai, você desenha, desenha, mas o papel ainda está em branco, e quando sai alguma coisa o desenho não representa o que você pensou. Vê um vídeo no youtube.
Já pensou em ir viajar? Dois amigos que também fazem arquitetura já vieram comentar das viagens que vão fazer essa semana, Minas parece um boa idéia, São Paulo, até Brasília. Qualquer lugar longe desses papéis brancos te acusando de que o projeto não anda, mas o tempo urge! Faltam dez dias para a entrega, ah não, já passou da meia-noite, nove dias. Repete o mantra "vai dar tempo, vai dar tempo".
Ficar acordada até três horas da manhã vai virar rotina até a próxima semana. Você tá sozinha no msn, fecha essa droga. Anota mais uma idéia, estacionamento subterrânero, será que dá com essa declividade? Mas onde eu vou por a gerência mesmo? Toma um chá, troca a playlist, tenta um primeiro croqui. A altura não ficou boa, será que vai dar para por as mesas do lado de fora com esse volume? E essa marquise não tá legal. Como vão ser as aberturas? Volta pra referência.
Já pensou em mudar de curso? Já, qualquer curso parece menos cruel, talvez se expressar um pouco, artes plásticas ou design, cozinhar, gastronomia parece ótimo, não tenho talento pra música, não suporto biologia ou qualquer coisa que chegue perto do laboratório de anatomia. Mas passei desse drama, acho que é isso o que eu quero. Viver minha vida inteira sem nunca me aposentar, mas viajar bastante, se der, mas vai dar. 
Levanta, senta, dá uma volta, toma um chá, vê um vídeo, olha para a mesa com vontade de jogar tudo no chão, chora, pergunta porque Deus é sempre tão cruel com os arquitetos, se joga no chão, senta, respira fundo, dá risada e vai dormir. Amanhã, contra a probabilidade, promete que vai acordar cedo e dar um jeito de adiantar as coisas. Mas antes tem que dar uma lida na matéria da prova. Boa noite.

15.5.10

Se o meu coração fosse uma casa, você estaria em casa...

If my heart was a compass you'd be north / Risk it all cause I'll catch you if you fall / Wherever you go / If my heart was a house you'd be home

 
If my heart was a house - Owl City


De novo aquela saudade de nada, pior que sentir muita saudades de alguém, é não ter alguém para sentir saudade. É só aquela carência enchendo o saco de novo, na vontade de pegar o primeiro e o segundo idiota que parecer estar afim, e o terceiro... Porque eles nunca parecem afim de verdade, sempre falta alguma coisa. Nem os primeiros beijos tem mais aquela magia de "é esse!".
E essa saudade vazia que me incomoda no peito, não tem força nem para chorar, nem para ter do que reclamar direito.Tá tudo indo bem, tudo normal. Esses dias que nada acontece. Os mesmos lugares de sempre, os mesmos caras de sempre, os homens vazios a cada duas semanas, as músicas de sempre. E no mesmo lugar comum você espera encontrar alguém que seja o menos comum possível.
Talvez seja falta daquelas borboletas no estômago, de não saber onde as mãos ficam melhor, de fazer cara de boba, de ter tantos detalhes para decorar e ficar relembrando depois, de receber mensagens de madrugada, de ter para quem ligar a qualquer hora, de sentir saudades, mas que se pode matar logo. Ai que saudade de sentir saudade!
Não faltam conselhos para as amigas, a pose de bem resolvida, de "não quero ninguém agora", a mesma fala decorada de sempre "homem é tudo igual", é, menos aquele que vai ser meu. E lá se vai de novo reparando no cara que entra na porta, campeão de torcer pescoços femininos. Ahaam, está bem sozinha. Ah tá.
A verdade é que nunca fui muito bem nessa história de ficar sozinha e nem quero ser. Mas por enquanto vou ficando amiga dessa saudade boba aqui. Uma hora alguma coisa acontece e muda meu mundo. E então adiós saudade! Pego o primeiro expresso via felicidade com acompanhante, e não penso em voltar tão cedo, ou nunca mais.
Saudade é bom, sentir saudades é muito bom, mas é bem melhor quando a saudade tem nome. E que seja bem melhor do que carência. Saudade que é boa tem nome de pessoa, e cheiro, e gosto, e telefone e endereço, que é para você poder acabar com ela logo. Saudade é legal, mas tem limite.