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4.6.10

Faltando

   Eu sinto a sua falta. Não importa onde você esteja, como está a vida, o que anda fazendo, eu nunca vou saber. A gente não se fala mais, e é melhor assim. Mas, essa solidão desgraçada e a vontade de ter alguém para compartilhar isso me lembra você.

   Eu estou nessa solidão com você, tão longe quanto eu posso estar. Porque algumas coisas simplesmente tem que ser assim. Saber deixar para trás algumas coisas, não dá pra viver carregando tudo, e é hora de esquecer.

   Depois de um tempo não faz mais sentido querer guardar aquilo que naquela hora eu prometi não esquecer, porque estou te esquecendo aos poucos. Eu não sei reconhecer o seu cheiro, nem lembrar como era sua voz e seu rosto vai borrando aos poucos na minha memória, não sobrou nem a sombra de um sorriso pra lembrar como era bonito.

   Se foi, eu não sei mais.

   Acabou o sonho, e cada vez mais eu tenho certeza de que algumas pessoas tem que ficar sozinhas. Eu tinha tanto medo disso. Mas eu aprendi a chorar quietinha, porque ninguém se importa, nem a vida, nem o tempo.

   E quando eu disse que sentia a sua falta talvez não era bem assim, talvez eu sinta falta de mim, mas é mais fácil não pensar nisso. É mais fácil resolver um problema de fora do que arrumar a bagunça que está aqui dentro.

   Queria poder desenhar tudo isso e colocar para fora, mas ultimamente só me sobraram palavras que morrem caladas, porque ninguém quer ouvir. Gritos que eu sempre cultivei, sobre o amor e sobre coisas que verdadeiramente importam, me parecem sonhos tolos agora. Como eu queria ser uma tola de novo. E é por isso que eu escrevo, pra matar todos esses sentimentos que me sufocam e me mostram que nada disso vale a pena, que eu sempre vou ser uma idiota. E de alguma coisa eu ainda sinto falta.

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