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18.2.08

A menina das borboletas

Eu estava sentada à janela, esperando que a minha vida acontecesse como em um passe de mágica. Ao longe eu ouvia o barulho do trem, ritmado, trazendo e levando pessoas, aquelas pessoas que faziam a vida acontecer. E eu continuava ali esperando a minha vida passar diante de mim com flores nos cabelos e um sorriso de pérola e me estendesse a mão e me dissesse “vem, chegou a tua hora”. Mas, o trem já era quase não ouvido, e o sol quis se pôr, quando uma borboleta pousou em meu nariz. Enruguei a face e ela deu uma volta em mim. Acompanhei seu vôo, até ela sair pela porta. Levantei e fiquei vendo ela sumir.

Foi quando mais uma, e outra, e mais outra, e tantas outras borboletas passaram à minha frente. Primeiro me espantei, depois sorri. Corri atrás delas. Segurava na barra do meu vestido, enquanto o caminho de flores se abria à minha frente. Eu ria alto e o bater de asas das borboletas riam comigo. Era a minha vida que acontecia ali e me chamava.

O mato foi ficando alto, o dia escurecia, as borboletas iam se apagando. Me vi no meio de uma aléia de altas árvores, uma borboleta ainda voava à minha frente e eu fui atrás. Era um lago que aparecia à minha frente e duas luas, uma na água, e outra no céu, iluminavam a noite. Fechei os olhos e respirei, como se pudesse sentir tudo aquilo. Ao abrir os olhos um menino surgiu do outro lado, com um cachorro do seu lado.

Olhei para ele e ele ficou olhando para mim. Até seu cachorro vir e pular em cima de mim, me derrubando. O garoto correu, afastou o cachorro e me pediu desculpas. Eu me limitei a sorrir, olhando, encantada, a constelação que brilhava nos olhos dele, enquanto ele olhava para o céu.

- Eu vim seguindo estrelas até aqui, elas riam para mim. – comentou ainda com os olhos voltados para o céu.

- Foram as borboletas que me trouxeram aqui, mas elas se foram... – abaixei os olhos, observando meus pés.

Pensei na minha casa, ficara para trás, eu não lembrava o caminho muito bem. É, eu estava perdida, tudo porque as borboletas a deixaram ali. Levantei os olhos, procurando os do menino, naquele momento tive medo dele sumir assim como as borboletas.

- Não seja tola, eu não vou sumir. – disse e eu fiquei assustada, me levantei, afastando dele – O que foi? Seu coração está tão dormente assim que não te deixa ouvir os meus pensamentos?

- Como? – não fazia o menor sentido.

- Vejo que se esqueceu. – ele levantou, com um pequeno sorriso no rosto e me abraçou – Ouça seu coração agora e vai entender. Ele ainda bate sabia?

Então eu senti nas minhas pontas dos pés, e nas pontas das mãos, meus braços se arrepiaram e as pernas pareciam querer desmontar. E bem fraquinho até ficar rápido, meu coração disparou, era o seu sinal de vida. Eu podia sentir as estrelas e o olhar dele sobre mim e o seu abraço. Meu coração fez silêncio e eu pude ouvir os pensamentos dele e sussurrado eu ouvi “almas gêmeas nunca morrem”.


Rafaela Giroto

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